A ilha de um eu perdido

Corri por entre labirintos até que meus pés fossem as próprias pedras. Eram espelhos, eram desilusões. Tudo se esvaiu como o lodo que reluz na manhã seguinte à partida. Barco sem âncoras. Só havia círculos, só havia ruídos Gigantescamente o tempo presente humilhando-me ao falar do sol. Voltas em torno de si, no penhasco de … Read more

Mater Suspiriorum

Espirais do ar se fazem fogo ao tocar a pele.A pele não costurada que abriga o sonho.O sonho de cada noite envolto em névoa não linear.A dança da imaginação cria asas sobre o não nascido. A dança fora é um pequeno grão da dança contínua de dentro. O olho de dentro, o olho da pele.All is … Read more

Minhas palavras afogadas.

Não sou este nome que me reveste, nem também as fatigadas tentativas de compreensão.Nada disto me pertence e não me importa enquadrar minhas palavras em um esquema de ordenação.Prosa, poesia, teatro, ensaio — who cares?São apenas palavras, de toda maneira, nem a vida são…Apenas palavras. E eu não sou esse ser que as cria. No … Read more

Encontrei-me com a prosa.

Quantos trens não vi passar.Quantas plataformas.Às vezes cheias, às vezes tão silenciosas.Quantas despedidas não me atravessaram, brutais. Mas de alguma estranha forma também emprestando-me seus olhos para que algo mudasse. Ainda assim, um quente na garganta, a ânsia pelo desconhecido prontamente abafada, sem nem poder gritar-se no mundo. Sem poder mostrar sua face linda e louca … Read more

Poema da dissolução

Quando choveAh, quando choveeu não seimeu coração escorre É tão bonitoTanta águaBrilho na árvoreGotinhas como brincos Quando choveQuando choveSou olhos de lágrimaSou o céu que caiSob a casa que eu eraE agora deixo rio-ir…Braços abertosMolhadosSou uma emoçãoQue se umedeceIndizível poesia correndo nas valasEscorre em mimNem corpo eu mais tenhoEngolida por um amor-enxurrada. Quando choveEu só … Read more

Fibras da memória

Quem me trouxe aqui,já tão ardida de fuga? Sem me conhecer.(Não há cais para o fim do mundo.)A minha renúncia.Porque talvez já seja tarde demaisE as feridas, profundamente entrelaçadasAo ser que não conheço.Este, da cara dura, de vincos. Abro mão de ti, meu ódio-amor, vida que tanto quis conhecer.Estarei mais próxima de minha carne. E … Read more

Desencontro ainda cotidiano

Poesia. Ver o dia sob novos ângulos. A tarde contida em mim. Mar de carros corredeiras não me limita o passo. Cimento ainda cotidiano. As asas são meu abraço contido no olhar. Árvore para meu medo pousar. Morte. Garganta chama por meu novo nome. Minha casa. Teu corpo. Os muros que por nós esperam palavra … Read more

Estrondoso meio-dia

Quando viro mulherquero-te bem perto. Quando encontro deustenho-te bem dentro. E gritoa descobertapor entre cobertas, Grito de poesia à vidapor nos acompanharAssim fecundar a morte com sanguepara que não se derrame a noiteacima da luz. Para sempre este belo meio-dia,chovendo dedos e cabelospor entre seu sorriso e sua lágrima.

Para quando se perdem todas as rotas

Em melodias de perdaAs vozes derramadasrevisitam casas de solidãoonde habitamos Algo que se perdeuatormenta,grita às minhas costasCartografia da dor. Não passar incólume,não desonrar o sangue da terra engolidapara meu corpo aqui pisar.Aquém do tempo, refazer o mapacosturar com nossos coágulos. Tocada pelas mãos do Tempopara finalmente ser a mãe da calma,onde viver e morrer tornam … Read more