A cerimônia de todas as vozes (2018) é fruto de intensas pesquisas da palavra poética em seus diversos estados e possibilidades – da poesia escrita à oral, sonora, em diálogo com a música e com os ruídos, além das diversas camadas que a voz pode conter, capazes de disparar na/no ouvinte-testemunha um estado poético e reflexivo. 

A autora do livro, além de poeta e performer, é também pesquisadora musical e historiadora e propõe nesta obra um diálogo com as vozes ancestrais femininas que nos compõem no agora. Um dos pontos mais notáveis da criação é o mergulho interior proposto através de uma experiência artística expansiva e híbrida, rumo à ancestralidade que reverbera no presente e assim permite redescobrir-se e reinventar-se. 

A cerimônia de todas as vozes teve seu processo iniciado em 2016 e, para a poeta, é um trabalho que encontra seu ponto de partida na junção entre criação artística e vivência histórica das mulheres, sobretudo de mulheres escritoras dos séculos XIX e XX sufocadas em seu ofício. Marianna entende que a obra que deixaram é um testemunho no qual se espelhar, além de reconhecer como muitas mulheres artistas pioneiras, dentre elas Sylvia Plath, Alejandra Pizarnik, Hilda Hilst, Adrienne Rich, Virginia Woolf, Audre Lorde, Ana Cristina César, Violeta Parra, Orides Fontela, Patti Smith, Sophia de Mello Breyner Andresen, Mary Shelley, Emily Dickinson (entre outras) abriram o caminho para que as mulheres hoje se expressem com mais liberdade e visibilidade. 

A obra, lançada no formato livro-disco, com cada unidade contendo um CD físico, pela Editora Urutau em 2018, tem parceria com o selo musical Índigo Azul (SP) na masterização e edição da trilha. Em nossa loja do site você pode adquirir o livro-disco, e, se por ventura não possuir mais acesso à mídia do CD físico, a trilha também se encontra disponível nas plataformas digitais; confira as opções em nossa página de poesia sonora.

Nesta empreitada, houve profícua participação de um time de músicos para a trilha e um time de mulheres na parte audiovisual. Assim, o livro-disco veio à luz através da colaboração dos músicos em uma espécie de laboratório coletivo ao longo de 2017. Os convidados para o time foram Felipe Antunes (Vitrola Sintética), Hélio Flanders (Vanguart), Carlos Gadelha, João Leão e César Ricardo. O livro conta com prefácios do músico e compositor Tatá Aeroplano e da escritora e psicanalista Mariana Lancellotti.

Em sua contrapartida visual, a narrativa desenvolvida por Marianna foi abraçada pela filmmaker e produtora Gabriela Dworecki Domingues, com apoio de Nayana Fernandes e participação da fotógrafa Renata Terepins capturando todos os momentos dos set de gravação da narrativa visual desta personagem-mulher que Marianna interpreta. Trata-se de uma personagem simbólica, a percorrer diversos espaços em busca de si mesma, perguntando-se “O que se encontra ao deixar a ilha de um eu perdido?”, em uma jornada caleidoscópica, que por vezes flerta com a loucura, o desalento e o estranhamento de si e do outro. Mas, eis que de dentro da própria so(m)bra do tempo vemos erguerem-se as vozes a dizer ser possível haver beleza no caos, a conclamar que cantemos e dancemos os seus nomes até o fim, em êxtase, sem nunca secar o mar do Ser. Foi em julho de 2017, de inverno ensolarado, que as quatro mulheres embarcaram em uma jornada por espaços em busca dos registros, passando por locais como a Casa do Sol, morada da escritora Hilda Hilst (1930-2004), em Campinas e hoje sede de seu Instituto (IHH); uma praia invernal (quase) deserta, no Guarujá; estradas e trilhas diversas que encontraram pelo caminho e cantos mágicos da Floresta dos Unicórnios (FLOU), sede do antigo Instituto Floresta dos Unicórnios, hoje espaço de eventos e santuário de animais, em Carapicuíba, local onde a autora já trabalhou, junto à FLOU, com produção cultural e apoio em cerimônias/jornadas espirituais xamânicas.

O resultado foi um material visual fortemente simbólico, que narra a história do livro juntamente à camada sonora, compondo um todo poético inseparável que permeia tanto o livro físico, com imagens selecionadas em preto e branco para integrá-lo, quanto o material de videopoemas, e também o vídeo de projeção da performance ao vivo. Este último, Marianna Perna tem apresentado desde seu lançamento, em Maio de 2018, concebendo A cerimônia de todas as vozes também presencialmente como uma apresentação de poesia multimídia, ancorando-se na palavra poética para oferecer uma experiência de poesia contemplativa com a potência de escancarar o mundo absurdo que nos circunda. A conclamação aqui é por romper o ambiente da tela limitada e das representações estáveis de si e do outro, borrando as fronteiras entre as linguagens, com a esperança de também romper as fronteiras do Eu. Ou seja, uma proposta que parte da palavra escrita e recria-se além dela, transbordando-se em estado poético vivo através da junção do som, da carne em dança & movimento, de projeções audiovisuais e músicos ao vivo. Esta apresentação já passou por espaços como: Cia da Revista (lançamento, em maio de 2018); Casa da Luz (temporada de 1 mês em 2018, com participação especial do músico holandês Tjalle Rens); Festival Vida & Arte em Fortaleza (CE); Sesc Av. Paulista; Flipei (RJ) 2018; O Andar (SP); Condomínio Cultural; Estúdio Lâmina, Patuscada Bar, entre outros.